A Pépa, os cortes do Alfaiate e o apagão da Samsung

O fenómeno (quase) viral do vídeo da Pépa Xavier fez com que eu fosse dar uma volta pelo mundo dos fashion bloggers portugueses.

E… o que é que eu aprendi com isso? Nada, acho. Mas tirei algumas conclusões.

Fiquei a perceber que há carradas, palletes, montes de blogues de moda. Em cada um desses blogues, há alguém a dar os seus bitaites sobre as últimas “tendências”, as “cores da estação”, os “trends”, o “urban style”, o que usar de dia e o que usar à noite… para estar in.

Umas vezes limitam-se a fazer corta-e-cola de fotos sacadas de sites das marcas e, outras vezes, mostram as suas próprias fatiotas (o que por vezes é bastante deprimente).

Em muitos deles dá-se graxa a marcas de cosméticos, falando numa côr nova de baton lançada pela marca tal, por exemplo, na esperança de receber umas amostras para continuar a falar da dita marca…

Quando se alcança alguma notoriedade, começam a chover as prendas: cosméticos, roupa, acessórios e por vezes até uma viagem paga às instalações da marca ou a um desfile de moda em Paris… o Eldorado dos fashion bloggers!!!

O mais incrível é que muitos destes blogs, mesmo os menos conhecidos (e alguns escritos em Português da 1ª Classe mal tirada), têm autênticas legiões de seguidores, como facilmente se constata pelo número de comentários de cada post. Malta que, à falta de melhor para fazer, vai até ali ver as tais sugestões e dicas, como quem folheia uma Marie Claire, uma Elle ou uma Vogue, mas à borla (pois tá claro), para saber o que devem ou não devem vestir…

candidatos-a-blog-of-the-yearNão digo que no meio desta parvoeira não haja alguns blogs com piada: A Pipoca Mais Doce – galardoada Best Fashion Blogger 2011! – tem alguns textos engraçados, há que dizê-lo. Mas a constante graxa aos “fornecedores” faz o blog parecer um cup-cake: muito colorido e… muito enjoativo!

O Alfaiate Lisboeta – também nomeado para os Best Fashion Bloggers – que já conheço há algum tempo, também tem, por vezes, textos razoáveis e as fotos são bastante boas, sempre da autoria do próprio e feitas na rua, a quem passa, o que lhe confere um valor especial.

No Alfaiate, gosto sobretudo do facto de não dar graxa a marcas, e de mostrar o que pessoas “reais” usam, com registos muito variados.

O lado negativo do Alfaiate, e não é de somenos importância – como já tive oportunidade de lho comunicar – é o seu autor, José Cabral, censurar alguns comentários, quando não gosta deles.  Basta que se diga sobre umas pantufas fashion – chamam-se “slippers”, aprendam – que aquilo é  “foleiro” para que o visto da censura ponha logo um traço azul. Não vá a coisa ofender… o “modelo”!

E com este aparte sobre os “cortes” do Alfaiate, volto ao vídeo da Pépa: então não é que a Samsung, por causa dos comentários negativos, resolveu apagar este vídeo, mais os outros todos, também protagonizados por bloggers, do YouTube?

Poderão argumentar que os vídeos “são deles”, logo os tipos da Samsung fazem deles o que quiserem. Mas suponham que em vez de vídeos se tratava de uma criação literária ou mesmo um filme? Retirar um livro das montras ou deixar de exibir certo filme, porque alguém se manifesta (10, 20, 500 ou até 1.000 pessoas) não é aceitar a Censura do público ou seja… Censurar tout court?

Talvez a Pépa Xavier até nem se importe muito: não há dúvida que a coisa lhe saiu mal e faz figura de tolinha no vídeo – apesar de se limitar a dizer, entre outras coisas, que tem um sonho, que é comprar uma mala Chanel – mas, e isso é o mais importante, será que vai ter fibra para se manifestar contra o apagão que a Samsung fez aos vídeos?

Duvido. Tal como duvido que alguém se lembre disto tudo daqui a uma semana…

———-  POST UPDATE – 15.Fev.2013  ——————————————————–

Reparei hoje (15.Fev.), por acaso, que o vídeo de Pepa foi “apagado” do YouTube (supostamento por violação de copyright… Yeah, right! digo eu). Fica aqui então de novo o vídeo que entretanto continua disponível no YouTube, noutro endereço.

4 pensamentos sobre “A Pépa, os cortes do Alfaiate e o apagão da Samsung

  1. Relativamente ao aspecto negativo que fazes referencia no blog “o Alfaiate Lisboeta” tenho que dizer que percebo o facto de nao gostares de censura nos comentarios. Na verdade eu como leitor também nao entendi a medida que o autor fez há pouco mais de um ano e senti inicialmente que se perdia a oportunidade de discussao entre os leitores. Até que li alguns posts anteriores e vi como certos leitores maltratavam os modelos que apareciam. E depois pensei que se fosse eu o autor do blog faria o mesmo. Quase como uma obrigaçao de proteger o modelo, que na verdade nao é um modelo mas uma pessoa que simplesmente é interessante visualmente e teve a casualidade de passar pela objectiva do Jose Cabral. Lembro-me de uma rapariga que saiu numa das fotos e um dos comentarios era “Esta senhora é uma grande puta”.Así de simples 🙂 Ao que se seguiam outros posts da mesma pessoa ou de outros que comentavam aspectos privados da vida dessa rapariga. É que a internet é um meio publico muito poderoso e que permite que o anonimato surja muito facilmente, e o anonimato pode ser muito perigoso e injusto. Imagina que te crucificavam desta forma se saisses num blog como o Alfaiate? Seguirias deixando que alguem te fizesse uma fotografia e a publicasse? Eu nao, e se tu todos forem como eu, nao ha blog para ninguem.
    Abraço
    Gonçalo Cardoso

  2. Gonçalo, eu sabia dessa história pelo próprio José Cabral, a quem escrevi algumas linhas bastante duras. O problema é que ao censurar os que “merecem”, cai na tentação de todo o que censura: censurar quando simplesmente não gosta.

    Eu já passei pelo mesmo problema no antigo Muito suave: opost da discórdia, mas não caí na tentação fácil de pôr a moderação porque prefiro fazer com que um palerma desses perceba o palerma que é…

    Pegando no exemplo que dás, se um bardamerdas qualquer escreve “Esta senhora é uma grande puta”, o José Cabral também podia, em vez de apagar (ou não deixar aparecer), dar-lhe resposta. qualquer coisa como, por exemplo: “Ficámos a saber o que pensas. Já agora, o que é que sentias se alguém pusesse um comentário igual ao teu, numa fotografia da tua mãe?

  3. Por acaso nao concordo que esse tipo de discussao seja produtiva e que leve a algum lado. Acho que redirecciona a atençao do leitor para aspectos secundários pouco ou nada interessantes. Mas e so a minha opiniao. Cada blog tem um “dono” e é ele quem faz as regras. Com linhas duras dos seus leitores, ou sem elas.

  4. Tem a ver com uma questão de princípio. Eu não tolero censura, venha lá ela “vestida” de que maneira seja. Logo, também não posso censurar.
    Os cortes que o Alfaiate faz são, por vezes, digno de riso… mas aquilo é Censura, quer ele queira quer não. E é mau que ele não perceba, mas entende-se: o rapaz ainda não era nascido quando foi o 25 de Abril e não tem a noção do que é ter de pensar no que se pode ou não pode dizer.
    O pior é que ele fica todo chateado quando eu lhe demonstro por a+b isso mesmo.

    Se leres o que escrevi aqui , ficas a perceber melhor porque é que esta história toda da Censura me chateia tanto…

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