A idolatria

Carta enviada hoje a José António Saraiva, director do semanário SolJosé António Saraiva,

No passado Sábado, 24 de Janeiro, o seu editorial no Sol intitulado “A idolatria” chamou-me a atenção.

Concordo que a idolatria é um pecado e concordo que o espaço destinado pela RTP ao Cristiano Ronaldo foi exagerado.

Não posso concordar é com a sua teoria do avaliar por baixo para gerar motivação, expressa naquele parágrafo onde diz, e passo a citar: “Se tivesse sido o segundo, continuaria a esforçar-se por ser o primeiro. Já tendo ganho o troféu, já tendo ganho aos 23 anos tudo o que tinha para ganhar, por muito estóico que seja, a sua motivação necessariamente diminui”

Antes de tudo, começo por lhe relembrar que o CR já tinha sido terceiro em 2007. Desta vez, na votação para melhor jogador do mundo de 2008, foram-lhe atribuído 935 pontos, sendo que o Messi, que ficou em segundo apenas arrecadou 678.

Há ainda outro dado interessante sobre a votação. Entre os seleccionadores e “capitães” das Selecções do Mundo responsáveis pela escolha, Cristiano Ronaldo recebeu 136 votos para melhor futebolista. Lionel Messi foi votado 76 vezes como melhor jogador.

Com estes dados, pretendo apenas fazer-lhe ver que, ou houve muita gente a votar sem saber o que estava a fazer ou, o que me parece mais provável, CR merecia de facto o prémio.

Agora, se de facto merecia o prémio, qual seria o efeito de os votantes terem direccionado os seus votos para outro jogador (com medo de que o rapaz pudesse perder a motivação)? A mim quer-me parecer que o CR ficaria, aí sim, desmotivado, talvez para o resto da sua vida, por sentir que não lhe estavam a dar nesta altura a avaliação que ele merecia.

Se lhe estou a escrever sobre esse texto, não é porque seja fã do CR. Aliás, nem sou grande seguidor do mundo do futebol.

Estou a escrever-lhe sobre esse texto porque acho confrangedor que alguém na sua posição, alguém que tem necessáriamente de avaliar os seus colaboradores, possa pensar dessa maneira. A julgar pelo que escreveu, nas avaliações que faz terá sempre em conta a idade dos seus colaboradores primeiro, e só depois o mérito.

Posso até extrapolar, seguindo o seu raciocínio sobre o prémio do CR que, se dependesse de si, um Prémio Nobel ou um Pulitzer nunca seriam atribuídos a um jovem de 23 anos – porque, lá está, um jovem de 23 anos que descobrisse a cura para o cancro e ganhasse o Nobel, poderia perder a motivação. É uma extrapolação propositadamente exagerada, mas repare que segue apenas a mesma linha de pensamento que o José Saraiva seguiu no seu artigo.

A mim, parece-me que um excelente desempenho, seja em que área for, deve ser premiado, independentemente da idade da pessoa que o atingiu. Sinceramente, não concorda comigo?

Um abraço. Cordialmente,
Pericles Pinto

Eleven, 23 de Janeiro 2009

Entre duas garfadas de lombo de porco preto com puré de castanha, couve roxa e alperce confitado e um golo de Quinta de Cabriz Colheita Seleccionada tinto 2006, falava-se da crise.

Dois dos meus amigos expunham a tese da crise ser “bastante especulativa” e demasiado alimentada pelas televisões e pela imprensa em geral.

A crise, assim discutida à mesa do Eleven, não me parecia de facto algo assim tão dramático. Não tão dramático pelo menos quanto a corrente de ar gelada que que passava através da frincha da porta envidraçada que dava acesso à esplanada, onde alguns tinham de ir para fumar o cigarrito da ordem, e que me vinha direitinha às costas.
Enquanto isso, perto de Palmela, um técnico suíço queimava os miolos a tentar perceber porque é que a excelente máquina vendida pela sua empresa dez anos antes não queria agora trabalhar.

O desgraçado do suíço tinha pensado dormir um par de horas antes de começar a investigar o problema para a solução do qual tinha sido requerida a sua presença, mas não tinha tido essa sorte: quem o foi buscar ao aeroporto, levou-o directamente para a fábrica, sem sequer passar no hotel para fazer o check-in.

Fui até à esplanada e telefonei um par de vezes para seguir a situação. À medida que me iam descrevendo as tentatívas infrutíferas do suíço, nem mesmo o champagne rosé servido como aperitivo, o branco das entradas e o tinto do prato principal conseguiam fazer com que eu não me começasse a preocupar muito seriamente com a situação.

Já no Xafarix, um par de Gin & Tonics mais tarde, deixei as preocupações para o dia seguinte. Mal sabia eu.

A avaliação de Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares tem defendido desde sempre a avaliação dos professores. Nada contra, pela parte que nos toca.

Aqui no Muito suave, achamos que é normal que todos devam ser avaliados. É portanto da mais elementar justiça que MST seja, ele também, avaliado.

Iremos então fazer uma avaliação a MST, nas qualidades de Comentador e de Escritor. Serão dadas notas de 0 a 20.

1. Utilização de novas tecnologias

1.1. Enquanto comentador do Expresso, notámos a ausência de um endereço de email para possíveis contactos dos leitores. Este lapso revela alguma inépcia para a utilização dos meios técnicos ao dispôr. Se MST alegar que é por falta de tempo para responder aos emails, pior ainda, revela uma má gestão do tempo. Nota: CINCO
Nota: não leva ZERO apenas por existir a possibilidade de comentar os artigos no Expresso online; no entanto isso não é da sua responsabilidade.

1. 2. A casa de MST foi assaltada e MST ficou evidentemente aborrecido por lhe terem roubado o PC, não pelo valor do mesmo, mas porque, segundo palavras do próprio «Perdi mais de um ano de trabalho. Tinha um livro que já ia a meio e outro que ia a cerca de um quinto».

Pelos vistos MST desconhece o uso de backups externas. Para quem rotula qualquer um de incompetente como quem bebe um copo de água… revela, mais uma vez, uma grande inépcia para lidar com as novas tecnologias (ou então não faz backups por ser preguiçoso). Nota: ZERO.

Nota média do Ponto 1. Utilização de novas tecnologias: DOIS VALORES E MEIO.

2. Escrita

2.1. Relativamente aos comentários do Expresso, a previsibilidade de noventa em cada cem comentários de MST serem para dizer mal de qualquer coisa … leva-nos a dar-lhe nota ZERO no capítulo de criatividade e capacidade de inovação.

2.2. As demonstrações de MST são, frequentemente, feitas com recurso à técnica do “preto e branco”: as informações que possam gerar indecisão ao leitor são omitidas (poderemos supor que com boa intenção; os fins justificam os meios, não é?). Nota CINCO em “Objectividade”.

2.3. No seu último romance, “Rio das Flores”, MST utiliza o verbo “realizar”, com o sentido de “aperceber-se” (pág. 207), cometendo um erro gramatical de palmatória e ajudando a difundir um anglicismo irritante que parece estar na moda no meio jornalístico. Nota ZERO em Gramática, pela gravidade.

Nota média do Ponto 2. Escrita (após arredondamento): DOIS VALORES.

3. Rigor histórico

A pesquisa histórica de MST deixa a desejar. É uma questão factual, como demonstra Gerhard Seibert. Nota SETE em História, dadas as incorrecções serem de pouca gravidade.

Avaliação final (média arredondada): Nota de QUATRO valores.
Possibilidade de promoção: A considerar apenas após nova avaliação
.

Nota: A avaliação acima fica sujeita a disputa por parte do avaliado durante 48 horas. Após este prazo, a avaliação é considerada como aceite.

Apesar da “avaliação” acima, continuamos a ser admiradores de Miguel Sousa Tavares. Estamos seguros de que o próprio terá capacidade para achar alguma piada a esta brincadeira.

Quem escreveu um texto como “O cerco” (em Março de 2006) merecerá sempre algum respeito do Muito suave. Mesmo achando que MST tem por vezes uma postura algo irritante.

Curioso é que a bujarda mais famosa que lhe é atribuida- “Os professores são os inúteis mais bem pagos deste país” – não saíu da sua boca!!! E esta?

MST nega a autoria dessa frase no Expresso, na crónica de 19.Maio.08 intitulada “São coisas da vida” afirmando: “eu nunca disse, nunca escrevi e nunca me ocorreu pensar tão estúpida frase. É absolutamente falsa, de fio a pavio.”

Até prova em contrário, MST não disse a tal frase, apesar de haver centenas ou milhares de pessoas a jurarem a pés juntos que foi numa entrevista na TVI.

À conta disto, foram postas a circular por email, supostamente pelos professores ofendidos, e à laia de retaliação, versões digitalizadas dos seus livros mais conhecidos. Livros esses que, diga-se de passagem se encontram facilmente na net: Equador (do qual gostei), Rio das Flores (de que estou a gostar) ou Não te deixarei morrer David Crockett (que não li).

Alguém acredita que isto possa afectar de forma visível as vendas destes livros? Não me parece.

Entretanto, MST está em guerra contra a Associação do Porto de Lisboa devido ao projecto de ampliação do terminal de contentores de Alcântara. Estamos com ele. A frente ribeirinha é dos lisboetas e há que pensar em alternativas.