No passado Sábado, 24 de Janeiro, o seu editorial no Sol intitulado “A idolatria” chamou-me a atenção.
Concordo que a idolatria é um pecado e concordo que o espaço destinado pela RTP ao Cristiano Ronaldo foi exagerado.
Não posso concordar é com a sua teoria do avaliar por baixo para gerar motivação, expressa naquele parágrafo onde diz, e passo a citar: “Se tivesse sido o segundo, continuaria a esforçar-se por ser o primeiro. Já tendo ganho o troféu, já tendo ganho aos 23 anos tudo o que tinha para ganhar, por muito estóico que seja, a sua motivação necessariamente diminui”
Antes de tudo, começo por lhe relembrar que o CR já tinha sido terceiro em 2007. Desta vez, na votação para melhor jogador do mundo de 2008, foram-lhe atribuído 935 pontos, sendo que o Messi, que ficou em segundo apenas arrecadou 678.
Há ainda outro dado interessante sobre a votação. Entre os seleccionadores e “capitães” das Selecções do Mundo responsáveis pela escolha, Cristiano Ronaldo recebeu 136 votos para melhor futebolista. Lionel Messi foi votado 76 vezes como melhor jogador.
Com estes dados, pretendo apenas fazer-lhe ver que, ou houve muita gente a votar sem saber o que estava a fazer ou, o que me parece mais provável, CR merecia de facto o prémio.
Agora, se de facto merecia o prémio, qual seria o efeito de os votantes terem direccionado os seus votos para outro jogador (com medo de que o rapaz pudesse perder a motivação)? A mim quer-me parecer que o CR ficaria, aí sim, desmotivado, talvez para o resto da sua vida, por sentir que não lhe estavam a dar nesta altura a avaliação que ele merecia.
Se lhe estou a escrever sobre esse texto, não é porque seja fã do CR. Aliás, nem sou grande seguidor do mundo do futebol.
Estou a escrever-lhe sobre esse texto porque acho confrangedor que alguém na sua posição, alguém que tem necessáriamente de avaliar os seus colaboradores, possa pensar dessa maneira. A julgar pelo que escreveu, nas avaliações que faz terá sempre em conta a idade dos seus colaboradores primeiro, e só depois o mérito.
Posso até extrapolar, seguindo o seu raciocínio sobre o prémio do CR que, se dependesse de si, um Prémio Nobel ou um Pulitzer nunca seriam atribuídos a um jovem de 23 anos – porque, lá está, um jovem de 23 anos que descobrisse a cura para o cancro e ganhasse o Nobel, poderia perder a motivação. É uma extrapolação propositadamente exagerada, mas repare que segue apenas a mesma linha de pensamento que o José Saraiva seguiu no seu artigo.
A mim, parece-me que um excelente desempenho, seja em que área for, deve ser premiado, independentemente da idade da pessoa que o atingiu. Sinceramente, não concorda comigo?
Um abraço. Cordialmente,
Pericles Pinto