E Doutor, era por extenso, para não haver dúvidas!
O Doutor Cassama anunciava-se “dotado de poderes” e prometia-me “ajuda a resolver problemas difíceis ou graves em 7 dias. Como: Amor, Insucessos, Depressões, Negócios, Injustiças, Casamento, Impotência Sexual, Maus Olhados, Doenças Espirituais, Sorte nas Candidaturas, Desporto, Exames, Vícios, Alcoolismo, Droga, Tabaco e protecção contra perigos, como acidentes em todas as circunstâncias”.
Acrescentava ainda que “aproxima e afasta pessoas amadas, com rapidez total”. Embora eu não perceba bem qual a utilidade de afastar pessoas amadas, não tive qualquer dúvida que o Doutor Cassama podia de facto impulsionar a minha carreira profissional para outros patamares, isto para não falar da minha performance desportiva!
A parte da Impotência Sexual, sim, também poderia um dia destes vir a fazer falta… um homem não vai para novo! E os maus olhados, o melhor mesmo é prevenir…
Ainda matutava se devia ligar para o telefone fixo ou para o telemóvel e já outro se oferecia para me ajudar! Desta vez, era o Professor Facoli, que também me tinha deixado o seu cartão no para-brisas.
O Professor Facoli tinha a seu favor o facto de ser um “Grande cientista”, o que lhe conferia, a priori, uma certa idoneidade. Para além disto, apresentava-se como “espiritualista e curandeiro, descendente de uma antiga e rica família com poderes de magias negras e branca”. Se vinha de uma família rica, era óbvio que não andava nisto pelo dinheiro mas sim por vocação!
Embora oferecesse resolução para mais ou menos o mesmo tipo de problemas que o Doutor Cassama, o Professor Facoli dominava a técnica que permite efectuar “trabalhos com o CADEADO VERDE, técnica simples e eficaz e rápido que faz voltar ao domicílio conjugal uma esposa ou marido”.
Isto pareceu-me bastante mais eficaz que um GPS e, ainda por cima, não precisava de estar ligado à corrente para funcionar…
Os dias foram passando e as ofertas de cientistas, espiritualistas e curandeiros ou astrólogos, não paravam de me aparecer no para-brisas. Ao final de duas semanas, já somava uma dezena.
Eram então o Doutor Cassama, o Professor Facoli, o Professor Mansa, o Professor Bana, o Professor Tassilimy, o Professor Bagaly, o Professor Simbo, o Professor Toura, o Professor Ami e, para finalizar, o Mestre Carimo. Ufa!
Tinha que escolher um deles, mas não podia ser ao calhas. Queria ter a certeza de que escolhia o melhor! Pus-me então a analisar os cartões com a máxima atenção.
Nesta altura, porém, comecei a notar coisas estranhas, que me ensombraram o espírito.
Reparei, por exemplo, que o Doutor Cassama, o Professor Toura e o Professor Bana tinham usado o mesmo texto, palavra por palavra. Mas que raio?…
A seguir, apercebi-me de que o Professor Ami, o Professor Facoli e o Professor Mansa tinham também, entre os três, textos iguaizinhos! Ai…
Quando vi que o texto do Professor Tassilimy era igual ao do Professor Bagaly, já nem fiquei surpreendido…
Motivador, apesar de tudo, era o facto de o Professor Ami, o Professor Facoli, o Professor Mansa e o Professor Simbo afirmarem todos que “Não existem problemas sem solução que não possam ser ajudados pelo…” seguido do respectivo nome. Revelava autoconfiança e coerência. Talvez me ficasse por um destes…
Como se aquelas coincidências não bastassem, o Doutor Cassama e o Mestre Carimo davam ambos a mesma morada, na Rua Santa Isabel, 75, Portimão. Seria um consultório com gabinetes?
Dava-se ainda o caso do Professor Bana e o Professor Bagaly compartilharem também uma morada, desta feita na Rua Teófilo Braga, 27, 3º Ft., em Portimão. Outro consultório?…
O que ainda conseguiu surpreender-me, foi o facto de o Professor Mansa e o Professor Simbo terem… o mesmo número de telemóvel!
Não é que compartilhar um telemóvel não pudesse ser apenas uma questão de redução de custos, mas a verdade é que eu, por esta altura, já tinha perdido a confiança.
As coincidências eram tantas, que eu comecei a pensar se o Doutor Cassama, o Professor Facoli, o Professor Mansa, o Professor Bana, o Professor Tassilimy, o Professor Bagaly, o Professor Simbo, o Professor Toura, o Professor Ami e o Mestre Carimo… não seriam todos uma mesma pessoa.
Mais pensava nisto e revia os cartões, e mais me parecia que assim era. Um charlatão! Um sem vergonha com dez ou mais identidades falsas, a enganar meio mundo.
Aquilo tudo era para esquecer. Melhor seria, com tempo, tentar marcar uma consulta com o Professor Alexandrino… ou com a Linda Reis.