O ceguinho cantor

O ceguinho tinha escolhido aquele túnel porque gostava de cantar e o túnel tinha boa acústica. Assim, cantava e podia ouvir-se a si próprio cantar. Para além disso, o túnel, ligando o CCB ao Padrão dos Descobrimentos, é, a um Domingo de manhã, um local bastante concorrido, o que lhe garantiria uns bons trocos.

O ceguinho ia cantando e as pessoas iam passando. Algumas, poucas para dizer a verdade, lá iam pondo uma moedita na garrafa de plástico cortada ao meio.

Ainda no rescaldo das últimas notícias do dia anterior, o ceguinho pensava alto, enquanto fazia uma pausa: Cum camano!… Mas será que aqueles gajos são todos parvos?… Eh pá, é que até eu que sou cego consigo ver que o Sócras mais a cambada se deixaram entalar pelo Alegre… e vão levar uma abada, e das grandes, nas próximas eleições!!!…

Talvez até fosse só a minha imaginação, mas comecei a saborear aquela derrota e a frustração que a mesma traria aos “xuxas” e de repente até parecia que me sentia mais leve!…

Cão de guarda, estética e sentido de humor

Mais um daqueles insólitos de Lisboa. Este cão de guarda de peluche, poisado em cima de um portão, chamou-me a atenção e pôs-me pensar em conceitos de beleza ou sentido estético e também em sentido de humor.

Quem pôs alí o boneco, deve, suponho eu, achar que aquilo é “giro” ou até mesmo “bonito” ou que, pelo menos, é “engraçado”, “tem piada”.

A verdade é que nem é uma coisa nem nenhuma das outras. O boneco é feio e sujo, e até acaba por ser um bocado tétrico.

O que, por outro lado, talvez faça com que ele acabe por cumprir com a sua função: afugentar os curiosos.

O ideal é entre 3 a 13 minutos

Andei a ser enganado anos e anos! Todos os artigos que lia nas revistas, fosse no café ou na sala de espera do dentista, me diziam que quanto mais prolongada fosse a relação sexual, melhor.

Foi com inveja que fiquei em tempos a saber que o Sting, vocalista dos Police, conseguia, graças ao sexo tântrico, ter relações durante horas e horas, embora, sempre tenha suspeitado que a mulher talvez não achasse muita graça à brincadeira…

Hoje, graças ao Correio da manhã, fiquei a saber que tenho andado a treinar para o boneco!

Diz no CM que o ideal é que a actividade sexual dure entre os três e os 13 minutos, segundo a opinião dos médicos, psicólogos e enfermeiros norte-americanos e canadianos, membros da Sociedade para o Estudo e Terapia Sexual.

13 minutos, no máximo?… Bom, isto é coisa para revolucionar a maneira como um adepto do desporto-rei encara o que fazer durante o intervalo de um Benfica-Sporting!

Cogumelo alucinogénico?

Achei este cogumelo surpreendente, pelas cores e pelo contraste que faziam com o fundo arenoso. Nunca tinha visto cogumelos assim a não ser em fotografias.

O cogumelo da foto tem algumas semelhanças com cogumelos alucinogénicos que estive a ver na net. Esta foto foi feita o ano passado, perto na zona da…

Pensando bem, não vou dizer onde é isto, senão há por aí uns quantos que vão já para lá a correr apanhar disto para secar e fumar!!!…

O homem do arbusto

Um dia destes, estava a olhar pela janela e vi um sujeito, sozinho, parado, no meio de uma pequena mata em frente ao prédio onde vivo, em Lisboa. Esteve parado durante um bocado, depois fez um gesto como quem quer esticar as pernas ou sacudir os sapatos e em seguida fez algo que me apanhou completamente de surpresa: entrou para dentro de uma moita.

Entrou, assim como alguém que entra para dentro de uma tenda. Agachou-se e meteu-se lá para dentro, deitado.

Isto passou-se há cerca de um mês. Depois disso, tornei a vê-lo um par de vezes, sempre pela manhã, sendo que numa dessas vezes, depois de ajeitar o cabelo com as mãos, bebeu de uma garrafa que me pareceu que seria uma garrafa de vinho.

Este sujeito vive naquele arbusto ou melhor, fez daquele arbusto a sua habitação. A sua vida, essa não sei onde a faz, realmente.

Há carradas de gente a dormir pelas ruas de Lisboa. Basta, por exemplo, passar nas arcadas do Terreiro do Paço, bem cedo, para ver algumas dezenas, que desaparecem quando começa a haver mais movimento na zona.

O que este sem-abrigo tem de diferente, na realidade é apenas o facto de ter escolhido o isolamento desta pequena mata, e o facto, algo pitoresco, de dormir dentro de um arbusto.

Dou por mim a pensar do que será feito o dia-a-dia deste homem. Deve viver da mendicidade, ou de arrumar carros, como tanto outros, seguramente. Alguma fonte de rendimento terá.

Com que sonhará, para além da garrafita de vinho, que, felizmente para ele, ainda se arranja barato?

Hoje dei por mim a pensar que este tipo é um post-it. Um post-it humano genial, que diz, a quem o veja, que qualquer um pode acabar assim. Exagero meu, claro. Tenho esta tendência para o melodramático.

A verdade é que cada um de nós não é muito mais que uma peça numa engrenagem, um número num budget da empresa onde trabalha, uma fracção ínfima de um orçamento de estado.

Ele há, de facto, países por essa Europa fora, onde talvez seja difícil, ou pelo menos pouco provável, chegar a este ponto, mas aqui, neste cantinho à beira-mar plantado?

Valha-nos a família e os amigos. Aqueles a sério, que se contam pelos dedos.

E valha-nos ser capazes de rir e manter a boa disposição, aproveitar, ir aproveitando, as coisas boas da vida.

A Ginginha do Rossio e as bruxas

De volta à Ginginha do Largo de São Domingos, que reabriu há alguns meses.

Enquanto me serviam uma ginginha com elas, perguntei à senhora que estava ao balcão como é que se tinham safado da exigência da ASAE para que houvesse uma casa-de-banho.

A Ginginha nunca teve espaço que possibilitasse a construção da casa-de-banho que era exigida mas como a ASAE é inflexível – “Dura Lex, Sed Lex” – fiquei curioso.

“Isto foi equiparado a quiosque. Como quiosque, não somos obrigados a ter casa-de-banho!”.

Rimo-nos todos. A vida é feita de cedências… e de alguma esperteza também.

À porta, a cigana insistia, de pensos rápidos em riste. Como eu não lhe desse nada, quando passou uma colega, ela disse-lhe qualquer coisa e a outra lançou-me uma praga.

Enquanto fazia a foto, comecei a pensar em partes do meu corpo que poderiam deixar de funcionar – nomeadamente a que enrija mais por irrigação sanguínea do que por contracção muscular. Dei por mim a levar a mão ao bolso e a dar-lhe uma moeda, não fosse o diabo tecê-las!

Estou mais que certo que fiz bem em dar a moedinha!… No creo en brujas, pero que las hay…

O Photoshop e a geração de frustrados

Já todos sabemos que as fotos que nos aparecem actualmente nas revistas, raramente são fotos sem manipulação através do Photoshop.

Não tenho nada contra uma correcção de cor ou de luz numa fotografia, mas aquilo que nos aparece nas chamadas “produções” vai muito, muito, para além disso.

Vejam estas duas fotos, que tirei da produção do Correio da Manhã desta semana com a Joana Reis e… digam-me lá se isto não é gozar com o pagode!
O grave não é haver miúdas a fazer dietas e a esfalfarem-se nos ginásios para ficar como as “vedetas” que aparecem nas fotografias… o grave é que NÃO FICAM NEM NUNCA VÃO FICAR!!!

Já todos sabemos o que é que isto vai dar: miúdas frustradas com os seus corpos “imperfeitos” e, não sei se isto não será pior ainda… rapazes que vão sempre achar que as suas namoradas não valem nada!

A mim parece-me que temos uma geração de frustrados à vista.