Memorabilia perturbadora

Há dias, numa volta pela Feira da Ladra, deparei-me com algo inesperado e insólito. Estou habituado a ver de tudo por ali, mas aquilo, não. Olhei e foi como se tivesse levado um abanão. Senti um incómodo geral. Tristeza. Respeito por quem teve de usar aquilo e pena pelo que teve de passar. Respirei fundo. Pensei nas histórias que haveria por trás do que estava ali naquela pequena caixa de madeira. Perguntei ao vendedor se podia fotografar. Eram dois pedaços da roupa de um prisioneiro judeu de um campo de concentração, o rótulo de uma lata de Zyklon e um bilhete de comboio de Amsterdam para Auschwitz.

No pedaço rectangular, podemos ver o ano de 1943. A guerra só acabou dois anos depois, em 1945. Quem vestiu a roupa de onde foram recortados estes pedaços ainda teve de suportar dois anos naquele campo de concentração até ser libertado.