A cadeira de rodas abandonada II

Ismael Silva olhava para a cadeira de rodas, ainda incrédulo com o que se tinha passado.

Ismael, professor do secundário, sentia-se desmotivado pelo que a chamada reforma do ensino lhe havia feito: apesar da sua dedicação e empenho, apesar de ter conseguido puxar por alunos considerados perdidos, apesar de tudo, enfim, durante os próximos 10 anos, o melhor que podia esperar era ter um aumentozito aqui e ali que acompanhasse a inflação.

Algarvio de gema, filho único de pai pescador, que se tinha sacrificado para que o filho “pudesse ter uma vida melhor”, e talvez levado pela sua costela árabe, decidira partir para a guerra.

Após ter descoberto onde votava Sócrates, a quem considerava como responsável pela sua desdita, tinha decidido fazer-se passar por inválido e ir até à assembleia de voto, sentado numa cadeira-de-rodas armadilhada com explosivos.

O plano era simples e consistia em alcançar Sócrates, com o pretexto de o cumprimentar, e nessa altura fazer a cadeira explodir.

Tudo correu como previsto: a segurança afastou-se, a pedido de Sócrates, que vendo uma oportunidade para uma boa foto, não se fez rogado.

Infelizmente para Ismael, o detonador não funcionou e quando se deu conta, estava a apertar a mão a Sócrates e a fazer um sorriso amarelo para a câmera.

Agora, olhava para o engenho e para aquela maldita etiqueta a dizer Made in China e praguejava: “Raios partam mais esta merda!… Nunca mais m’hádes apanhar na loja do chinês!!!”

A cadeira de rodas abandonada

27 de Setembro. Tinha estado a ver a “grande noite das eleições” até onde a pachorra aguentou. Deitei-me, cansado mas sem sono, e levantei-me pouco depois para beber um copo de água.

Passava pouco da meia noite quando fui à janela e deparei com uma cadeira de rodas no passeio. Uma cadeira de rodas sem ninguém sentado nela. Olhei para um e outro lado da rua e não havia ninguém à vista, nem sequer um carro a passar.

Achei estranho e senti-me um pouco incomodado, nem sei bem porquê. Talvez fosse para me livrar desse incómodo, dei por mim a tentar arranjar uma explicação para aquela cadeira de rodas sem passageiro.

Uma explicação prosaica, e talvez a mais provável, já que a cadeira estava perto da escola, onde tinham decorrido as eleições, seria a de que alguém tivesse levado um idoso a votar e, de seguida, após auxiliá-lo a entrar no carro ter-se-ia esquecido de colocar a cadeira no interior.

Mas teria mesmo sido assim? A cadeira continuava lá em baixo, imóvel, e eu ainda com pouco sono.

Imaginei então alguém, um idoso, já com algumas dificuldades de locomoção e com o coração fraco, mas que tinha teimado com o neto que iria votar, nem que fosse a última coisa que fazia na vida, desesperado com a possibilidade do Sócrates continuar a governar o país. Antes ainda de votar, tinha sucumbido a um ataque cardíaco.

Quase me pareceu ouvi-lo ainda a vociferar “… vamos correr com esse bandiiido!!!” e a apagar-se. Na confusão gerada pela chegada da ambulância, a cadeira tinha ficado para trás.

E a cadeira lá em baixo. E ninguém na rua. Quanto mais pensava nisto e olhava para cadeira vazia, mais provável me parecia esta explicação.

Não seja modesto Dr. Soares

“Ninguém, nenhum político desde o 25 de Abril, foi tão injuriado como José Sócrates” disse Soares no comício do PS de ontem.Penso que Soares é modesto. Senão vejamos; de Sócrates, o que é que foi dito?

– Insinuações sobre sua sexualidade (e suspeitas de ter ajudado Diogo Infante – que seria o suposto “amigo colorido” – a ascender ao cargo de Director Artístico do Teatro Nacional D. Maria II),
– Suspeitas de ter obtido benefícios pessoais com o licenciamento do Freeport e
– Suspeitas sobre a sua licenciatura

Tudo o mais, mesmo a famosa “cabala” foram ou são questões que implicam gente ligada ao PS, mas não necessariamente o seu lider propriamente dito, nomeadamente o Caso Casa Pia (em que teria havido encobrimento de algumas figuras de proa do PS como Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso) ou questões ligadas a favorecimento de empresas (desde o lobby do betão – Mota Engil – ao fabricante do Magalhães, passando pela fornecedora de flores de S.Bento).

Já sobre Soares… relembro algumas das “perguntas a Soares que gostaríamos de ouvir”, algo que escrevi aqui no Muito suave, em Outubro de 2005:

– Dr. M.S., já que é contra os tabús, pode finalmente esclarecer-nos se, quando estava exilado em França cuspiu, pisou ou fez ambas as coisas a uma bandeira nacional?

– Dr. M.S., qual era o valor dos diamantes que alegadamente vinham no avião em que viajava o seu filho João Soares e que foi abatido na Jamba?

– Dr. M.S., que nota dava, de 0 a 20, se tivesse que avaliar a descolonização de Moçambique da qual foi protagonista? E a de Angola? Se não é indiscrição, quanto é que tocou ao clã Soares daqueles 8 milhões de petro-dólares desviados este ano?


– Dr. M.S., o que é que a Fundação Mário Soares já fez desde que começou a receber dinheiro do Estado, perdão, desde que foi criada?


– Dr. M.S., há alguma possibilidade de o Relatório de Contas da Fundação Mário Soares ser tornado público antes das eleições? Confirma que a Fundação Mário Soares fez investimentos em terrenos agrícolas na zona da Ota?

Ainda hoje sorrio quando leio os comentários que estas linhas geraram na altura. O que realmente parece ser verdade é que, ou Soares já se esqueceu da quantidade de boatos que circularam sobre ele no passado ou então… é muito modesto.

Quando é que vamos ter Pocket Coffee por cá?

Provei aqui há uns tempos esta maravilha da Ferrero que dá pelo nome de Pocket Coffee.
É um bombom do tipo do Mon Chéri, com “chocolate escuro” por fora e, por dentro, em vez do licor de ginja tem… café. Não é licor de café, é mesmo café, e bem forte.

É uma delícia, embora eu ache que é um nadinha doce de mais.
Por cá, ainda não há isto à venda. Estes tinham sido comprados na Alemanha. Tendo em conta que nós, os portugueses, gostamos “bastante” de café… e de chocolates, o que eu gostava mesmo de perguntar aos senhores da Ferrero é…

Caríssimos, quando é que vamos ter Pocket Coffee por cá?