A morte da Fava Rica do Martim Moniz

Aqui há coisa de una dez uns anos, um galego de nome Manolo Carrera teve a brilhante ideia de recuperar uma receita tradicional de Lisboa caída no esquecimento e passou a servi-la num quiosque no Martim Moniz ao qual chamou Quiosque Fava Rica e foi assim que tive a oportunidade de finalmente provar a famosa Fava Rica sobre a qual tinha ouvido a minha mãe falar.

De Muito suave

A Fava Rica é uma sopa feita com favas secas demolhadas. Depois de feita, tempera-se no prato com alho picado e um fio de azeite. É boa, é barata e aconchega o estômago.
Esta sopa era originalmente mais do que um prato típico, um prato de gente pobre, vendido na rua logo pela manhã, pelas vendedoras que traziam o tacho de sopa quente à cabeça, em cima de uma trouxa de pano e apregoavam: “Fava Riiica!”.
 
Uma ideia como esta, de voltar a vender a sopa da Fava Rica, por tudo o que representa da nossa História e pela delícia que é a própria sopa, devia ser acarinhada.
No entanto, para meu espanto e desagrado, descobri hoje que o Quiosque Fava Rica está neste momento proibido de vender a Fava Rica.
Segundo um dos empregados, “a Câmara proibiu-nos de vender a sopa”. Sabendo eu que a sopa vinha todos os dias para o quiosque, congelada, em porções individuais e ali era apenas aquecida, não consigo perceber que razão pode ter havido para esta proibição…
Perguntei ao empregado porque é que tinham sido proibidos de vender a sopa e ele respondeu-me “Não sei. Vieram aqui e proibiram. Às vezes é melhor não fazer perguntas…”. Esclarecedor!…
Resumindo, deixou de haver Fava Rica porque um palhaço qualquer armado em “funcionário competente” se lembrou de proibir que se vendesse!!! Ou talvez porque alguém tenha interesse em que não se venda ali… Alguém com boas ligações… Até tenho um palpite, mas é só um palpite.
Isto também faz lembrar aquela vez em que a Ginginha do Rossio esteve fechada porque a ASAE andou para lá a meter o nariz. Pensei que estas parvoíces já tinham acabado, mas parece que não.
Sinceramente, é triste. É muito triste mesmo!…

O drama de Li-Wan

Li-Wan foi hoje notícia um pouco por todo o mundo, por  ter tentado suicidar-se após descobrir que o seu noivo a tinha abandonado e casado com outra, um dia antes do casamento marcado com ela.
Para ilustrar a notícia, a maior parte dos jornais optou por uma das fotos da jovem a ser agarrada pelo homem que a salvou, no instante em que se encontrava já pendurada no exterior do edifício.
No entanto, ao olhar paras as várias fotos que aparecem no National Post, esta prendeu o meu olhar.
Para além do enquadramento e dos contrastes do claro e escuro, há várias coisas que adoro nesta foto. A expressão de Li-Wan, para começar, revelando todo o seu sofrimento e desespero. Depois, o drama: neste momento a tragédia é ainda iminente e não sabemos o seu desfecho!… Finalmente, a pose de Li-Wan: a forma graciosa com que a sua mão agarra janela e a maneira como arqueia o corpo e inclina a cabeça para trás, são dignas de uma cena de ballet clássico.
Por tudo isto, considero esta foto uma séria candidata ao prémio World Press Photo 2011.

Mudar o rumo da vida V – Gabriella e a Moldavite

Após algum tempo de reflexão, tinha decidido conformar-me de vez com a minha sorte.

Olhava a nesga de Rio Tejo que vislumbro da janela das minhas águas furtadas na Rua Nova da Trindade quando reparei que a Gabriella me tinha enviado outro email. Mau… então isto agora é todos os dias?


Curioso, fui lendo. E quanto mais lia, mais fascinado ficava. A Gabriella afinal tinha qualquer coisa que mais ninguém tinha! A Gabriella tinha… Moldavite, “um fragmento de estrela” que é “considerada a pedra absoluta da adivinhação cósmica”!…

Convém relembrar que a Gabriella é “uma das raras videntes do mundo a possuir a pedra do conhecimento”.


Pensei para os meus botões: a Gabriella garante que “vê o seu futuro”. Caraças, se vê o futuro, podia dar-me os números do Euromilhões desta semana… Mais uma vez, fiquei ali a olhar para o botão a dizer APROVEITO, sem saber se devia aproveitar ou não.


Aquela história da Moldavite fascinava-me. De tal maneira que dei por mim a pesquisar. Mas quanto mais pesquisava, menos fascinado estava.

Comecei por descobrir que a Moldavite é um mineral que tem de facto qualquer coisa de cósmico: para além da sua bela cor verde, este mineral, que se encontra sobretudo na República Checa, resulta do impacto de meteoritos com a Terra. Interessante…


Por outro lado, pesquisando no eBay, apareciam-me cerca de 2.000 ofertas de pedaços de Moldavite, com preços desde desde os 3 aos 300 dólares…  

…!!!

2.000 gajos a vender calhaus de Moldavite!!!… E era esta merda é que a Gabriella queria convencer-me de que só ela é que tinha?!

Mudar o rumo da vida IV

Apesar de todas as desilusões do passado (ver aqui, aqui e aqui), continuo a acreditar na mística.
Por isso, quando vi este anúncio aparecer-me na caixa de correio do meu email, pensei “É desta é que vai ser!”

Em primeiro lugar, porque a Gabriella me oferecia a sua consulta 100% GRATIS

Depois, porque, além da extrema generosidade, oferecia ajuda para “que a sua situação financeira se ameliore”
 

Estava quase a clicar no APROVEITO JÁ! quando li uma segunda vez o anúncio.

“Ameliore”??? Não é que eu não gostasse de ver a minha a minha situação financeira “ameliorada” mas… será que, se aceitar a ajuda da Gabriella, o efeito secundário é ficar a falar portinhol para o resto da vida?!… 

Clico? Não clico?

Leitaria A Camponeza

Na Baixa de Lisboa, partindo do Rossio em direcção ao Terreiro do Paço temos a Rua do Ouro, percorrida por quem circula de carro do Rossio para o Terreiro do Paço e temos também a Rua Augusta, por onde passeiam os turistas, onde vendem flores algumas floristas, e onde ganham a vida os lojistas, e certamente alguns carteiristas.
Entre estas duas, há uma rua menos movimentada, mas com alguns pontos de interesse: é a Rua dos Sapateiros.
Entra-se nesta rua passando por debaixo de um arco, e logo à direita aparece o Animatógrafo do Rossio, um antigo cinema, com uma fachada espectacular e que está actualmente transformado em sala de peep-shows com ar decadente. É pena…
Mais adiante aparece a Leitaria A Camponeza que é onde queria chegar.Vale a pena parar e apreciar A Camponeza, por vários motivos.
Visível logo no exterior, há um painel de azulejos, lindíssimo, datado de 1908, da autoria de José António Jorge Pinto. No interior há mais dois painéis do mesmo autor. Para além dos azulejos, todo o interior do café é muito bonito, com alguns apontamentos em estilo Arte Nova.
É um local onde se pode tomar um café ou comer uma pequena refeição. Comi uma sandes de presunto, feita com um óptimo pão caseiro, que estava uma delícia!
Falei dos azulejos, da decoração e da comida… mas não podia terminar sem falar da simpática Vera, que me atendeu.

A Vera e o seu sorriso e aquela mistura tão engraçada de portuguesa com uma pitada de Angola, valeu, só por si a visita à Camponeza! Até um dia destes.