Ainda outra estória (esta talvez explique muita coisa)

Aqui há tempos, estava a olhar para rua e vi, numa paragem de autocarro, uma jovem mãe que tentava entrar num autocarro com um carrinho de criança. O carrinho era grande e a rapariga não conseguia entrar pela porta da frente. Pediu autorização ao condutor e ele abriu-lhe a porta de trás.

A rapariga veio então com o carrinho e, com alguma dificuldade, lá conseguiu metê-lo dentro do autocarro. Foi enquanto metia o carrinho no autocarro, com a ajuda de uma amiga, que eu me dei conta do porquê de tanta dificuldade.

O tal carrinho não era um carrinho qualquer. Era um daqueles carrinhos para criança que há em alguns centros comerciais e que são uma miniatura de um carro, com volante, para os miúdos irem entretidos enquanto os pais andam às compras.

Estes carrinhos, pelos quais se paga 1 ou 2 Euros para se andar com a criança, estão feitos para andar pelo centro comercial e têm uma estrutura em tubo de metal que serve para proteger o carrinho, à frente e prolonga-se numa pega, atrás, para ser conduzido pelo adulto. Esse tubo e a pega são propositadamente grandes e pesados e não são amovíveis, para dissuadir quem tenha a tentação de levar um carrinho para casa.

Como se pode depreender, esta rapariga não se deixou intimidar, nem pelas dimensões nem pelo peso do carrinho e resolveu mesmo levá-lo para casa.

Se o facto de uma jovem mãe fazer isto já me chocou bastante, ver que o estava a fazer estando acompanhada por uma miúda com cerca de nove ou dez anos, causou-me uma repugnância indescritível!

Qual foi a lição que essa miúda aprendeu naquele dia? Primeiro, que não há mal nenhum em roubar. Segundo, que as pessoas têm medo de enfrentar os ciganos.

Uma lição que ela não vai esquecer e que vai interiorizar, talvez passar aos seus filhos um dia, sobretudo porque, provavelmente, não vai ficar muitos mais anos da escola, já que a Segurança Social não parece conseguir obrigar os membros da comunidade cigana a garantirem aos filhos a frequência do Ensino Mínimo Obrigatório.

É pena que isto aconteça, pois a frequência da Escola, onde iria conviver com outras crianças, de outros meios, talvez a fizesse perceber que os “outros” não se regem por este código de conduta e talvez, apenas talvez, se quebrasse este ciclo.