O valor do mal por João César das Neves

No Destak  de26.10.2011, na secção OPINIÃO, apareceu o seguinte artigo intitulado: O valor do mal escrito por João César das Neves naohaalmocosgratis@ucp.pt

Esta crise, como todas, provoca muitas reacções. O pior tem sido a escassez de reacções positivas. Mais dramático que o sofrimento, são as pessoas que deixam a crise tomar conta da sua vida. Talvez por já sermos um país rico, desta vez há demasiada gente a levar a crise a sério. Ela é mais grave que as anteriores, não por estamos a perder mais, mas por ainda não terem começado as anedotas.

A raiva de tantos, o desespero e desânimo de outros, os «indignados» que enchem as nossas ruas, orgulhosos da sua indignação, todas essas atitudes são compreensíveis, até razoáveis. Mas todas assumem a situação como está, aceitando descer ao seu nível. Não a agarram como caminho e instrumento para algo melhor.

O importante na nossa existência não é o que nos acontece, mas o que fazemos com o que nos acontece. O que faz de nós seres humanos é a capacidade de nos elevar acima dos acontecimentos até ao sentido dos acontecimentos.

O que está em causa hoje é o valor do mal, um dos maiores mistérios da humanidade. Santo Agostinho explicou isto de forma cristalina ao dizer: «o Deus sumamente bom, de nenhum modo permitiria existir algum mal nas suas obras, se não fosse tão omnipotente e bom para até do mal tirar o bem» (Enchiridion xi). Goethe descreve o diabo como «uma parte daquele poder que sempre quer o mal e sempre consegue o bem» (Faust I, iii, 1336-37). Mas talvez nos tempos que correm seja melhor invocar Steve Jobs, que sempre disse que o facto de ter sido expulso da Apple em 1985 foi a causa da melhor parte da sua obra. 

Segue abaixo o email que enviei ao João César das Neves a propósito do mesmo.

O César das Neves, diz que “A raiva de tantos, o desespero e desânimo de outros, […], todas essas atitudes são compreensíveis, até razoáveis. Mas todas assumem a situação como está, aceitando descer ao seu nível. Não a agarram como caminho e instrumento para algo melhor.” 

Ao contrário do César das Neves, eu acho que o protesto que se vê nas ruas pode ser o instrumento para algo melhor.

Lemos recentemente nas manchetes dos jornais que temos ex-políticos a receber salários em cargos de de gestão de empresas (onde desempenham cargos de “Gestor não executivo” assumidos, por obra e graça de Deus, logo a seguir à sua saída da política) e a acumular estes salários com pensões desde os 2.000 até aos 8.000 Euros.

Essas pensões foram criadas com o propósito de “proteger” os políticos que “perdiam” a sua vida na política e que, quando saíam dela, podiam já não ter idade para entrar no mercado de trabalho. São discriminatórias mas, talvez se possa dizer que a sua existência é compreensível (tendo em conta um mercado de trabalho em que quem tem mais de 40 anos é considerado um “velho”).

No entanto, um vasto leque de políticos tratou de esquecer esse “espírito da lei” e pediu as tais pensões, acumulando-as com os vencimentos dos cargos no privado. Mais engraçado ainda é que alguns desses ex-políticos, quando souberam que podiam ter de abdicar do 13º e 14º mês das pensões, vieram logo a terreiro dizer que só recebiam 12 parcelas!…

Apesar de tudo, entretanto, já houve quem se prontificasse a abdicar de umas migalhas… Não foi muito, mas talvez seja um princípio para a moralização da classe política.

Será que a atitude tomada agora por esses políticos foi só por causa das manchetes dos jornais ou… será que o barulho da rua teve alguma coisa a ver com isso? Eu gosto de pensar que este movimento de revolta teve de facto qualquer coisa a ver com isso. 

Pergunto-lhe: Uma multidão a manifestar-se contra a chulice da classe política e o enriquecimento ilícito (e nunca julgado em Tribunais) não é agarrar a situação “como caminho e instrumento para algo melhor”? 

Ou será que os milhões desviados para off-shores é que são o “caminho e instrumento para algo melhor”? 

Convém lembrar que, a primeira destas manifestações, ocorreu no final do último mandato do Sócrates e, fruto de quem soube escutar essa contestação, tivemos eleições antecipadas onde pudemos pôr um ponto final no regabofe socialista! 

Então, será que isso não foi caminhar para algo melhor? 

Voltando ao seu texto. É verdade que há muitas histórias de pessoas que foram despedidas e que com isso ganharam o impulso para alcançar algo melhor, algumas vezes criando a sua própria empresa.

Essas são as histórias de que se ouve falar, talvez porque as pessoas gostam de histórias com final feliz. Talvez também sejam as mais divulgadas por gente que acha que são boas para moralizar o pessoal…

No entanto, e o senhor sabe isso tão bem como eu, a verdade é que, desses “empresários pós desemprego”, poucos se transformam em casos de sucesso.

Na realidade, por cada caso de sucesso de empresas criadas, temos umas dez que fecham as portas, deixando às vezes o empresário e a família na penúria. 

Dizer que do mal vem sempre bem é pura demagogia.

Essa afirmação, das duas uma, ou revela uma ingenuidade que advém de quem a profere viver num mundo aparte, entre catedráticos e políticos, e desconhecendo totalmente a realidade do povo Português ou então… acredita piamente no poder da reza do terço!

Ou… provém de quem gostaria que os trabalhadores fossem carneiros que aceitassem os despedimentos que aí vêm sem estrebuchar muito!

Fui despedido sem qualquer motivo? A minha empresa fechou? Não faz mal porque o João César das Neves diz que vou para melhor… ou será que vou é desta para melhor? Se calhar era isso é que ele queria dizer e eu é que percebi mal.

Pelo sim pelo não, vou ali acender uma vela ao Santo Agostinho, pode ser que ainda me safe!…

Como disse?

Um tipo vai pela rua distraído e de repente aparece-lhe à frente este RETO À ESPERA… 
Uma coisa destas, mesmo para quem está habituado a folhear os Classificados do Correio da Manhã, não deixa de ser um choque!
Numa leitura mais atenta lá se percebeu que é um cartaz da Associação Reto à Esperança.
Reto seria Repto, com ou sem acordo ortográfico, aqui ou no Brasil. Suponho que mantiveram a palavra espanhola pelo facto de a primeira Associação ter origem em Espanha.
Pelo trabalho que fazem, a Associação Reto à Esperança merece o nosso respeito, mas… aquele RETO À ESPERA… não sei… pode induzir alguém em erro…

O que vê nesta imagem?

A primeira coisa que me vem à cabeça são as imagens do Paris-Dakar. Por causa daquela nuvem de poeira levantada pelas ovelhas.
Logo a seguir, a solidão do pastor, caminhando à frente do rebanho de ovelhas, procurando a cada dia um pasto onde estas possam comer. Trabalho duro. Dia após dia, umas vezes suportando o calor do Sol, outras, a chuva e o frio. Mas sempre sozinho, só ele mais as ovelhas e os cães.
É tudo uma questão de hábito, suponho.
Quando passo por este pastor costumo cumprimentá-lo, mesmo sem o conhecer: “Boa tarde!” e um aceno de mão.
Ele retribui e aprecia o gesto, sorrindo.
Há que dar valor a este trabalho. Uma vez por outra, pensar um bocado nesta labuta, enquanto se saboreia um queijo de Azeitão.
Ou enquanto se dá algum carinho à filha do pastor, coitada, também ela sozinha em casa o dia todo…

Metal oxidado, um novo trend?

O acabamento em metal oxidado é algo a que já estamos habituados na escultura contemporânea.
Esculturas em metal oxidado são, desde há alguns anos, parte do panorama da cidade de Lisboa.
Se caminharmos pelo Parque das Nações, dificilmente nos escapa “O Homem-sol”, uma escultura monumental de Jorge Vieira, criada para a Expo 98.
 
Também com acabamento em metal oxidado, estes canteiros, à entrada do Pingo Doce de Chelas.
Surpreendente, apesar de tudo, foi o que descobri há uns dias.
Alguém decidiu pegar num comum Fiat Cinquecento e aplicar-lhe um capot… com acabamento em metal oxidado!
Um detalhe muito interessante desta obra é o símbolo da marca, cromado, em contraste com o metal oxidado.
Não estou a brincar. O que parece loucura hoje, pode vir a tornar-se uma moda comum amanhã: alguém seria capaz de prever, há vinte anos atrás, que carros e motas teriam pinturas em preto baço?
Ou, já agora, alguém seria capaz de prever que se venderiam jeans e T-shirts com rasgões ou… sapatos “pré-envelhecidos”?!…
Então e o que é que faz um dono de um carro “aço oxidado”, se lhe riscam a “pintura”?
Bom, isso é como os pudins instantâneos: basta juntar água… e esperar que enferruje de novo!!!