A coisa mais esquisita que eu já comi

Perguntam-me muitas vezes – tenho a fama de provar tudo, mesmo tudo – qual foi a coisa mais esquisita que eu comi. A resposta é, sem hesitações, Beondegi. Pronuncia-se “Bondégui”.

Mas, afinal, o que é o Beondegi? O engraçado da história é que quando o comi pela primeira vez, não fazia a mínima ideia do que pudesse ser!

Estava na rua, em Pyeong-Taek, na Coreia do Sul, e vi uma velhota a vender qualquer coisa para comer dentro de uns pacotinhos de papel.

O carrinho da velhota fazia lembrar aqueles antigos carrinhos de gelados, com dois recipientes metálicos com tampas redondas. Estes, em vez de gelados, tinham lá dentro qualquer coisa a cozer.

Vi a senhora servir um freguês e percebi que havia duas variedades. Uma era uma espécie de burriés, com uma concha mais bicuda do que os que temos por cá e a outra coisa eu não conseguia perceber o que era. Era redonda, e escura, com o feitio, mais ou menos, de uma azeitona.

A velhota não falava inglês mas percebeu que eu estava curioso, espetou uma daquelas coisas num palito e ofereceu-me. Agradeci e comi.

Como aquilo era assim para o salgadinho, achei que devia ser um bicharoco qualquer do mar.

No dia seguinte contei a história a um colega coreano e fiz um desenho o mais parecido possível com o que tinha comido, para ver se conseguia descobrir o que era o petisco.

ImagemO meu colega exclamou imediatamente “Bondégui” e riu-se.

A seguir pegou no meu desenho da “azeitona” e desenhou, do lado esquerdo, uma minhoca e do lado direito uma borboleta e fez uma seta da minhoca para a “azeitona” e dessa para a borboleta.
Imagem
O que eu tinha comido no dia anterior era… uma deliciosa crisálida de bicho-da-seda.

“Bondégui”.

 

 

Vim depois a saber que é um petisco muito popular como comida de rua por aquelas paragens.

Alguém me explica porque é que nenhum dos meus amigos quis provar o Beondegui de lata que eu trouxe da Coreia com tanto carinho???!!!

Marta Cavalheiro, força!

O ano passado, escrevi um post sobre uma miúda com quem estive à conversa no Rossio, numa manhã de Fevereiro.

Nunca me passou pela cabeça que esse post fosse realmente fazer alguma diferença na vida dessa miúda.

Talvez nem tenha feito. No entanto, a Mãe dela leu o que escrevi e leu também o que escreveu uma outra pessoa, que também conversou com a Marta.

O que ambos escrevemos deve ter dado um alento extra à mãe da Marta, que entretanto tomava conta de uma outra criança, que entretanto passou a ter, para além de uma avó amorosa, alguém a quem chama Mamã.

Não vou dar nenhum conselho à Marta.

Marta, força!