Unas e Taveira. Sexo, mentiras e vídeo à portuguesa

Esta semana rebentou mais um “escândalo” no Twitter. Aconteceu que o comediante e actor Rui Unas teve a brilhante ideia de convidar o não menos famoso Arquitecto Tomás Taveira para um podcast.

A legenda da foto no instagram rezava o seguinte: Tomás Taveira. 82 anos. Um homem não pode ser definido apenas pelas asneiras que fez na vida. Estar à conversa uma hora com o ArquitectoTomás Taveira é conhecer um espírito livre, de uma cultura imensa, sentido de humor e uma referência absoluta na arquitectura em Portugal. Se vai ao Maluco Beleza… ele é Maluco Beleza para isso.

Como é evidente, o Unas não contava que a coisa lhe estourasse nas mãos da maneira que estoirou.

Calhou, ainda por cima, que isto aconteceu na mesma semana em que a actriz Sofia Arruda declarou ter sido, há uns anos, vítima de assédio sexual. As declarações foram feitas no programa da SIC “Alta Definição” de Daniel Oliveira.

Caiu-lhe o Twitter em cima. E de uma forma tão intensa que o desgraçado do Unas se viu obrigado a apagar o post e a fazer um pedido de desculpas.

Achei curioso, relativamente aos comentários do pessoal do Twitter, uma série de coisas:

Foi referido que ele gravou os actos sem conhecimento e sem consentimento das intervenientes. Crime! Como é que esta malta sabe isto? Não sabe, mas calcula. Esquecem-se que em 1989, uma câmara de vídeo, mesmo das mais pequenas, tinha o tamanho de um tijolo. Podia ter colocado a câmara em cima de um móvel, simulando que estava desligada? Podia. Temos a certeza de que o fez? Não. Então, não devemos formular essa acusação. In dubio pro reu.

Foi também afirmado por vários que o Taveira tinha divulgado os vídeos. Desconhecem portanto a história das cassetes roubadas pela empregada da limpeza e vendidas a um editor que criou uma revista chamada “Semana Ilustrada”, onde apareciam várias imagens tiradas dos vídeos, e que fez uma tentativa de extorsão ao Arquitecto, dias antes de lançar a revista no mercado.

Vários referiram ainda que o Tomás Taveira abusou de diversas estudantes, coagindo-as utilizando a sua posição como professor na Faculdade de Arquitectura. Alguns até se referiram aos actos como sendo violações, uma vez que a dada altura se tinha ouvido um “não” de uma da participantes. Relativamente a esta estória das “estudantes de Arquitectura”, há duas coisas a dizer. Primeiro, que houve várias participantes que não tinham rigorosamente nada a ver com a ESBAL. Houve a “menina da Kookai”, houve as Tias de Cascais (segundo certos rumores, algumas seriam até mulheres de alguns políticos da altura, o que levou Cavaco Silva a fazer um certo discurso acerca de uma “campanha de difamação de membros do Governo”), houve de tudo, portanto.

Houve também uma ou duas estudantes de arquitectura. Não sabemos se a aproximação foi feita pelo Arquitecto ou se o flirt foi iniciado pelas alunas. Para quem faz a acusação, parece não haver dúvidas, mais uma vez. Fico parvo com a leviandade com que a malta do “politicamente correcto” assume estas coisas. Há para ali comentadores que, na altura dos acontecimentos, teriam uns dez anos, mas falam como se soubessem tudo o que se passou, quase como se tivessem estado lá a assistir ao assédio do Arquitecto! Para os “correctos”, não se põe a hipótese de haver meninas a tentar obter notas a troco de favores sexuais. Tias a precisar de dinheiro para as compras também não existem.

Tal é a memória dispersa e confusa dos acontecimentos que, de repente, o famoso “Dói, não dói?… Aguenta…” passou a ser “Dói, não dói?… Estudasses!…”, quando na realidade o “Estudasses!” é uma referência muito mais recente à famosa licenciatura acelerada do Relvas.

Vamos lá esclarecer uma coisa. Eu vi os vídeos e não há dúvida que o Arquitecto esteve mal. Há para ali algumas cenas indesculpáveis mas… e isto é um grande mas, uma coisa é alguém mostrar desconforto com o que está ser compelida a fazer, e outra coisa é vermos que a suposta vítima não procura efectivamente e de uma forma inequívoca por fim à situação. Bem sei que é uma linha muito fina, esta que separa o consentimento com mostras de evidente desconforto do estupro. No entanto, creio que essa linha não chega a ser cruzada. É o meu entendimento. Twiteiros vão dizer que isto é misógino, opinião de boomer ou outra coisa qualquer. Ou o clássico “vou dar block a este gajo”. Força nisso!

Falta mencionar, relativamente à tal entrevista da Sofia Arruda que houve quem, de maneira mais ou menos explícita, mencionasse que o Daniel Oliveira, que faz a entrevista, seria o protagonista do assédio. Nem comento.

O Unas, entretanto, coitado, vendo que estava prestes a ser mais um personagem “cancelado” pelas feministas e demais activistas do politicamente correcto, foi a correr apagar o post do Taveira, tal como referi acima e acrescentou o pedido de desculpas para fazer “contenção de danos”: “Se a mensagem é mal interpretada por muitos e até contrária aos teus princípios, o melhor é retratarmo-nos e, humildemente, corrigir. Creio que conhecem o suficiente para saberem em que lado da trincheira estou”.

Mas nem mesmo assim se livrou de haver gente que continuou a espicaçá-lo, uns ainda pelo post inicial e pela sua leviandade relativamente ao indesculpável convívio com um “predador sexual”, à “normalização daqueles actos” e às “vidas destruídas daquelas raparigas” e outros que lhe chamaram cobarde(!) por ter cedido às críticas ao apagar.

A estes últimos pergunto: valia mesmo a pena deixar uma carreira de sucesso, construída ao longo de anos, ir por água abaixo, para mostrar a sua “independência” e a sua “liberdade de expressão”? O Unas é casado e pai de filhos. Fizeste bem Unas. Esquece. Às vezes um tipo tem de engolir uns sapos. E a vida continua.

O que vale é que se mete o fim de semana e na segunda feira já haverá seguramente outro tema a incendiar o Twitter.