Quando cheguei ao fundo da escadaria que desce para a estação do Marquês de Pombal, aceitei o panfleto que me estendia um desconhecido.
Na realidade, não era verdadeiramente um desconhecido, pois identifiquei quase imediatamente a sua cara. Tinha-o visto há uns dias atrás, num programa de televisão onde foram entrevistados activistas de várias organizações pacifistas. Perguntei-lhe se era ele que eu tinha visto na TV há uns dias e confirmou-me que sim, sorrindo, por eu o ter reconhecido.
Segui em frente e comprei o bilhete, o que também veio a ser um episódio engraçado que, mais tarde, contarei. Olhei para trás e resolvi documentar a situação, por achar ser um exemplo interessante de exercício da cidadania. Saquei da máquina e fotografei. O homem viu-me e, por momentos, pela sua expressão, achei que ele poderia pensar que era um agente à paisana.
Avancei para ele e perguntei-lhe se não se importava que eu o tivesse fotografado. Disse-me que
não, claro que não, e eu expliquei que tencionava escrever sobre ele no meu blogue.
Perguntei-lhe como é que se chamava e fiquei então a conhecer pessoalmente o José Silva.
Em seguida, perguntei-lhe se a Polícia o andava a chatear muito, com esta história da realização da Cimeira da Nato e, pelo que o José Silva me disse, pareceu-me que não tinha sido alvo de grandes pressões.
O José Silva fez uma pausa na distribuição dos seus panfletos e deu-me a conhecer alguns dos seus pontos de vista: o José Silva acha que os Governos não estão interessados na paz (nem na Educação, nem na Cultura). Para o nosso Governo, por exemplo, esta Cimeira da Nato foi uma óptima desculpa para justificar “a compra dos blindados, em relação aos quais o Governo veio, entretanto, justificar-se dizendo que vão servir para patrulhar bairros problemáticos”.
Para o José Silva, estes blindados, e tudo o mais que diga respeito a armamento, não passam de manobras para justificar despesas exorbitantes com as quais haverá sempre alguém a encher os bolsos. E alguém duvida da parte de encher os bolsos?…
Sobre a violência nas Manifestações Pacifistas, o José Silva não tem a menor dúvida de que esses episódios são sempre provocados por agentes da autoridade infiltrados! Tudo com o fim evidente de justificar continuadamente as despesas com os Agentes da Autoridade e o Exército.
O José Silva informou-me que pertencia à PAGAN e mostrou-me no folheto o símbolo da sua organização e o endereço na net: http://antinatoportugal.wordpress.com/
Fazia-se tarde. Despedi-me do José Silva com um aperto de mão e desejei-lhe boa sorte.
Achei curioso que duas pessoas que desceram as escadas antes de mim não tivessem aceitado o panfleto. Por medo? Não creio, eram muito novos para saber como eram as coisas antes do 25 de Abril. Talvez mais por desinteresse. O desinteresse de quem não está para se chatear, ou de quem pura e simplesmente toma como ponto assente que as coisas são como são e nada pode ser mudado. Parece-me que algures, alguém se esqueceu de ensinar algumas coisas importantes a esta malta.
Posso não concordar com a ideologia que ele prega mas… ainda bem para a nossa Democracia que vai havendo alguns tipos como o José Silva.